“E houve naquela terra uma grande fome”. ( Lucas, 15:14 - Jesus na Parábola do Filho Pródigo. )
Na coluna de Joaquim Ferreira dos Santos, do Jornal “ O Globo” do dia 13/08/07 uma notinha cujo título é “ALUGUE UM AMIGO” assusta-nos. Ela anuncia um novo profissional no mercado. Trata-se do “personal friend” ou “Amigo Alugado” Ele pode ser encontrado facilmente pela internet e por oitenta reais ele vai ao cinema, ao shopping e outros passeios, só como amigo, claro. Tal personal tem como público alvo pessoas com dificuldade de relacionamentos.
Fiquei a pensar nessa fome emocional, espiritual, e até mesmo moral que o homem vive hoje na terra. Há pessoas que pagam para ter um amigo de mentirinha? É inacreditável! É uma notícia que choca, mas faz-nos refletir sobre a necessidade que temos de relacionarmo-nos. Sobre a ética dos relacionamentos de amizade, para que esta seja duradoura.
David Servan- Schreiber, doutor em ciências neurocognitivas afirma-nos: “ Nosso cérebro foi projetado para assegurar um relacionamento que é indispensável à sobrevivência da espécie. É a base de nossa capacidade inata de criar relações, no âmbito social, com os outros_ em um grupo, uma tribo ou uma família. (1)
Sendo o contato emocional uma NECESSIDADE BIOLÒGICA real para os mamíferos, ao lado do alimento e do oxigênio como afirma esse cientista que desenvolve com o seu grupo o Projeto Nova Medicina das Emoções, como entender essa total incapacidade de fazer amigos? Medo? Auto-proteção? Timidez? Esses sentimentos que se tornam tão comuns hoje são assim tão poderosos para ir de encontro a uma necessidade tão natural quanto o alimento e o oxigênio? São tantas as perguntas a que nos induzem a indignação com a notícia e, ao mesmo tempo, a compaixão pelos seres humanos... Sem respostas, optamos por falar dessas tristes “anorexias”, desses “regimes” forçados pelas circunstâncias difíceis da Terra e dos homens nessa hora.
Antes conhecíamos a fome de alimento. Ainda hoje instituições espíritas distribuem a cestas básicas para alimentação das famílias mais necessitadas que lhes batem à porta.Essa fome é mais fácil de ser saciada, até porque o governo distribui hoje a conhecida “Bolsa Família”. Conhecemos, também, a fome de conhecimento que invadiu o espírito humano nas últimas décadas.Esta vem sendo saciada paulatinamente, de acordo com nossa capacidade de assimilação. Conhecimento hoje é caro. Paga-se bem por seminários, workshops, palestras, onde se difundem os conhecimentos específicos.
Alimentados física e intelectualmente, conhecemos a Fome Emocional. É a fome de Compreensão, fome de Amor, determinando carências que adoecem os homens.
Como encontrar um amigo? Não sabemos. Até porque amizades nascem sempre de forma muito natural e espontânea. Vêm da empatia primeira que logo se faz simpatia; esta desenvolve-se em amizade e a amizade é o embrião do amor verdadeiro que precisa de cuidados para não ser abortado por nosso descuido.Há em todo relacionamento a perspectiva do amor porque o amor é parte de nossa genética espiritual. Ensaiamos na amizade o grande vôo para os cumes floridos do amor como Jesus nos ensinou. Não há manuais que nos ensinem a fazer amizades. Conhecemos, porém, de perto, a importância de um amigo em nossas vidas.
Há algum tempo, o mesmo jornal de onde retirei esta triste nota para nossa reflexão, publicava, no mesmo caderno, uma matéria sobre a figura do “Fiador Emocional”, definindo-o como a pessoa que está sempre por perto quando você se perde de si mesmo. São pessoas que trazem nos lábios palavras simples e mágicas que aplacam nossos medos e dores para não cairmos no descontrole psíquico. Não nos julgam. Antes, amparam-nos com uma palavra, um afago, um gesto simples, mas verdadeiro. Todos precisamos ter um “fiador emocional” que é a palavra sugerida para substituir a palavra AMIGO. Será que essa palavra tão bonita já está gasta? Envelheceu? Sabemos que as palavras envelhecem, mudam seu significado e até morrem quando as esquecemos. A língua tem vida. Mas até a palavra AMIGO que carrega em si o mesmo radical da palavra AMOR?
Jesus, conhecendo profundamente o amor, porque amava, deu-nos exemplos claros do comportamento de um amigo e do zelo que uma amizade requer.
Ser amigo é saber silenciar e ouvir como Jesus ouviu a confissão de Zaqueu .
Ser amigo é saber falar e advertir como fez a Pedro, avisando-o da tentação a que seria submetido.
Ser amigo é saber perdoar o medo desse mesmo amigo que negou, ante o Sinédrio, essa linda amizade que os unia e ainda afastou-se, justo no momento em que ele mais precisava. .
Ser amigo, é estar pronto e com tempo para receber o carinho ditado pela gratidão e emoção dos amigos. Foi assim que Jesus acolheu na alma o afago espontâneo da pecadora que lhe unge os pés. O Mestre pára por um pouco a sua vida para recolher a ternura singela que essa alma lhe ofertava; Sabia reconhecer e acolher o puro afeto. Quantos não têm tempo nem para os afagos dos próprio filhos!
Jesus não se distanciava dos amigos e percebia-lhes, mesmo de longe, as angústias. Sondava-lhes os pensamentos. E, sabendo-os em riscos em alto mar, vai ao encontro deles para ampará-los, caminhando sobre as águas e logo acalmando-os: “ Não temais, sou eu!”
Ser amigo é misturar lágrimas no abraço solidário na hora da dor. Quando avisado da morte de Lázaro, Jesus chora pela dor das irmãs Marta e Maria, suas amigas:”Jesus chorou”. Eis o menor versículo do Evangelho! Mas quanto nos fala do amor de Jesus!
- Ser amigo é oportunizar sempre ao amigo nova chance de reflexão sobre o valor dessa amizade, como o Mestre fez a Judas até o último instante: “Amigo, a que vieste?” Exclama quando Judas lhe dá o triste beijo. Até o fim ele o chama “Amigo”. Na certeza de que tudo se renovaria com o tempo que rega, sem descanso, as sementes do amor .
A amizade de Jesus se faz na partilha do conhecimento: “Já não vos chamo servos mas tenho-vos chamado amigos porque tudo o que ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer”.
Faz-se inda no sacrifício: “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida pelos seus amigos”.
Na esperança do reencontro sempre, a cada despedida: “Vou preparar-vos o lugar”.
Na promessa cumprida: “ Eu vos enviarei outro consolador para que fique para sempre convosco
Nas palavras de consolação e ânimo: “ No mundo passais por aflições; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo”.
Amigo, é o que pensa conosco as soluções para os nossos problemas.É aquele que bem conhece nosso lado feio e tenta embelezá-lo com a cosmética da verdade sem dor.É o que respeita os outros amigos que fizemos em nossa trajetória, silenciando as dificuldades de suas almas.É aquele que por sua alegria, faz-se medicamentos de Deus em nossas vidas.É, enfim, o que nina nossa dor, adormecendo-a para que descansemos dela por um pouco. É o que acaricia nossa alma silenciando seus gemidos.
Onde comprar esse amigo? Quanto custa?
Pensemos seriamente na dor dessas criaturas solitárias e tristes por falta de amigos e tarefas que lhes preencham o vazio da alma . Oremos por elas que jazem famintas em lares bem supridos de alimentos materiais. E, sobretudo, valorizemos os amigos que conquistamos apesar de nossas impertinências, nosso egoísmo, nosso personalismo. Amemo-los, com o mais profundo amor que nossas almas possam suscitar.
Livremo-nos desse triste jejum. E que nunca experimentemos essa Fome de Amor.
BIBLIOGRAFIA
1- SEVAN-SCHREIBER, David. CURAR- Sá Editora. São Paulo. 2004.
2- Novo Testamento.
Na coluna de Joaquim Ferreira dos Santos, do Jornal “ O Globo” do dia 13/08/07 uma notinha cujo título é “ALUGUE UM AMIGO” assusta-nos. Ela anuncia um novo profissional no mercado. Trata-se do “personal friend” ou “Amigo Alugado” Ele pode ser encontrado facilmente pela internet e por oitenta reais ele vai ao cinema, ao shopping e outros passeios, só como amigo, claro. Tal personal tem como público alvo pessoas com dificuldade de relacionamentos.
Fiquei a pensar nessa fome emocional, espiritual, e até mesmo moral que o homem vive hoje na terra. Há pessoas que pagam para ter um amigo de mentirinha? É inacreditável! É uma notícia que choca, mas faz-nos refletir sobre a necessidade que temos de relacionarmo-nos. Sobre a ética dos relacionamentos de amizade, para que esta seja duradoura.
David Servan- Schreiber, doutor em ciências neurocognitivas afirma-nos: “ Nosso cérebro foi projetado para assegurar um relacionamento que é indispensável à sobrevivência da espécie. É a base de nossa capacidade inata de criar relações, no âmbito social, com os outros_ em um grupo, uma tribo ou uma família. (1)
Sendo o contato emocional uma NECESSIDADE BIOLÒGICA real para os mamíferos, ao lado do alimento e do oxigênio como afirma esse cientista que desenvolve com o seu grupo o Projeto Nova Medicina das Emoções, como entender essa total incapacidade de fazer amigos? Medo? Auto-proteção? Timidez? Esses sentimentos que se tornam tão comuns hoje são assim tão poderosos para ir de encontro a uma necessidade tão natural quanto o alimento e o oxigênio? São tantas as perguntas a que nos induzem a indignação com a notícia e, ao mesmo tempo, a compaixão pelos seres humanos... Sem respostas, optamos por falar dessas tristes “anorexias”, desses “regimes” forçados pelas circunstâncias difíceis da Terra e dos homens nessa hora.
Antes conhecíamos a fome de alimento. Ainda hoje instituições espíritas distribuem a cestas básicas para alimentação das famílias mais necessitadas que lhes batem à porta.Essa fome é mais fácil de ser saciada, até porque o governo distribui hoje a conhecida “Bolsa Família”. Conhecemos, também, a fome de conhecimento que invadiu o espírito humano nas últimas décadas.Esta vem sendo saciada paulatinamente, de acordo com nossa capacidade de assimilação. Conhecimento hoje é caro. Paga-se bem por seminários, workshops, palestras, onde se difundem os conhecimentos específicos.
Alimentados física e intelectualmente, conhecemos a Fome Emocional. É a fome de Compreensão, fome de Amor, determinando carências que adoecem os homens.
Como encontrar um amigo? Não sabemos. Até porque amizades nascem sempre de forma muito natural e espontânea. Vêm da empatia primeira que logo se faz simpatia; esta desenvolve-se em amizade e a amizade é o embrião do amor verdadeiro que precisa de cuidados para não ser abortado por nosso descuido.Há em todo relacionamento a perspectiva do amor porque o amor é parte de nossa genética espiritual. Ensaiamos na amizade o grande vôo para os cumes floridos do amor como Jesus nos ensinou. Não há manuais que nos ensinem a fazer amizades. Conhecemos, porém, de perto, a importância de um amigo em nossas vidas.
Há algum tempo, o mesmo jornal de onde retirei esta triste nota para nossa reflexão, publicava, no mesmo caderno, uma matéria sobre a figura do “Fiador Emocional”, definindo-o como a pessoa que está sempre por perto quando você se perde de si mesmo. São pessoas que trazem nos lábios palavras simples e mágicas que aplacam nossos medos e dores para não cairmos no descontrole psíquico. Não nos julgam. Antes, amparam-nos com uma palavra, um afago, um gesto simples, mas verdadeiro. Todos precisamos ter um “fiador emocional” que é a palavra sugerida para substituir a palavra AMIGO. Será que essa palavra tão bonita já está gasta? Envelheceu? Sabemos que as palavras envelhecem, mudam seu significado e até morrem quando as esquecemos. A língua tem vida. Mas até a palavra AMIGO que carrega em si o mesmo radical da palavra AMOR?
Jesus, conhecendo profundamente o amor, porque amava, deu-nos exemplos claros do comportamento de um amigo e do zelo que uma amizade requer.
Ser amigo é saber silenciar e ouvir como Jesus ouviu a confissão de Zaqueu .
Ser amigo é saber falar e advertir como fez a Pedro, avisando-o da tentação a que seria submetido.
Ser amigo é saber perdoar o medo desse mesmo amigo que negou, ante o Sinédrio, essa linda amizade que os unia e ainda afastou-se, justo no momento em que ele mais precisava. .
Ser amigo, é estar pronto e com tempo para receber o carinho ditado pela gratidão e emoção dos amigos. Foi assim que Jesus acolheu na alma o afago espontâneo da pecadora que lhe unge os pés. O Mestre pára por um pouco a sua vida para recolher a ternura singela que essa alma lhe ofertava; Sabia reconhecer e acolher o puro afeto. Quantos não têm tempo nem para os afagos dos próprio filhos!
Jesus não se distanciava dos amigos e percebia-lhes, mesmo de longe, as angústias. Sondava-lhes os pensamentos. E, sabendo-os em riscos em alto mar, vai ao encontro deles para ampará-los, caminhando sobre as águas e logo acalmando-os: “ Não temais, sou eu!”
Ser amigo é misturar lágrimas no abraço solidário na hora da dor. Quando avisado da morte de Lázaro, Jesus chora pela dor das irmãs Marta e Maria, suas amigas:”Jesus chorou”. Eis o menor versículo do Evangelho! Mas quanto nos fala do amor de Jesus!
- Ser amigo é oportunizar sempre ao amigo nova chance de reflexão sobre o valor dessa amizade, como o Mestre fez a Judas até o último instante: “Amigo, a que vieste?” Exclama quando Judas lhe dá o triste beijo. Até o fim ele o chama “Amigo”. Na certeza de que tudo se renovaria com o tempo que rega, sem descanso, as sementes do amor .
A amizade de Jesus se faz na partilha do conhecimento: “Já não vos chamo servos mas tenho-vos chamado amigos porque tudo o que ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer”.
Faz-se inda no sacrifício: “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida pelos seus amigos”.
Na esperança do reencontro sempre, a cada despedida: “Vou preparar-vos o lugar”.
Na promessa cumprida: “ Eu vos enviarei outro consolador para que fique para sempre convosco
Nas palavras de consolação e ânimo: “ No mundo passais por aflições; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo”.
Amigo, é o que pensa conosco as soluções para os nossos problemas.É aquele que bem conhece nosso lado feio e tenta embelezá-lo com a cosmética da verdade sem dor.É o que respeita os outros amigos que fizemos em nossa trajetória, silenciando as dificuldades de suas almas.É aquele que por sua alegria, faz-se medicamentos de Deus em nossas vidas.É, enfim, o que nina nossa dor, adormecendo-a para que descansemos dela por um pouco. É o que acaricia nossa alma silenciando seus gemidos.
Onde comprar esse amigo? Quanto custa?
Pensemos seriamente na dor dessas criaturas solitárias e tristes por falta de amigos e tarefas que lhes preencham o vazio da alma . Oremos por elas que jazem famintas em lares bem supridos de alimentos materiais. E, sobretudo, valorizemos os amigos que conquistamos apesar de nossas impertinências, nosso egoísmo, nosso personalismo. Amemo-los, com o mais profundo amor que nossas almas possam suscitar.
Livremo-nos desse triste jejum. E que nunca experimentemos essa Fome de Amor.
BIBLIOGRAFIA
1- SEVAN-SCHREIBER, David. CURAR- Sá Editora. São Paulo. 2004.
2- Novo Testamento.